Sobre Tarô #9 – Métodos de Leitura e Ética

Chegou agora? Pois existem outras postagens como essa!
Para um melhor aproveitamento, comece aqui: Mundo Freak Confidencial 43 – A Arte Mística do Tarô nosso programa com o Marcelo Del Debbio e leia os nossos posts anteriores: #1#2#3#4#5#6, #7, #8 e esse!
Com esta postagem você já deve saber praticamente tudo que precisa para ler os Arcanos Maiores, é praticamente a ultima aula deste “Curso de Tarô”. Na ultima postagem falamos sobre o Rito de Abertura para a leitura, e nessa, vamos falar da leitura em si!
Existem muitos métodos de leitura possíveis, o único limitante em níveis avançados de relacionamento com o Tarô e seus símbolos é a sua criatividade e o que você quer com a leitura, para qual finalidade ela vai servir. Isso quer dizer que você pode inclusive – deve aliás, criar seus métodos de leitura.
Mas antes, uma questão importante.
Ética no Tarô
É uma longuíssima questão sobre se na magia existe ética ou polaridades de Bem e Mal, ou se ela é um força cega da natureza (se ela existir, hue), tangemos um pouquinho o assunto no podcast Mundo Freak Confidêncial #109 – O Caminho do Mago e a Magia Prática, que gravamos junto com a galera do Foco de Pestilência. Para resumir e dar o meu ponto de vista, que como dito várias vezes é apenas uma das infinitas possibilidades, e jamais uma verdade absoluta, Tarô é uma ferramenta, uma muleta, pode me ajudar a andar, ou me atrapalhar a andar dependendo da situação em que estou, ou pode até mesmo ser uma arma, um porrete para dar nos outros. Por isso muito depende de quem vai fazer a leitura, e esse aliás, é um dos motivos dessa série de postagens, capacitar, mesmo que minimamente, os ouvintes do podcast Tarô com o Del Debbio a ler as cartas para si mesmos.
Pois o Tarô pode sim fazer mais mal do que bem, é preciso confiar em quem vai fazer a leitura, é preciso saber para que se quer a leitura (duvido que um leitor sério vai bater na sua porta oferecendo seus serviços), e existem algumas situações em que o Tarô pode fazer mal. A Galera do Clube do Tarô listou a lá Buzzfeed 10 situações onde o Tarô pode fazer mal, as quais linco aqui e reproduzo a seguir:
 1) O tarô faz mal quando o consulente faz de seu tarólogo a sua última e única saída – nenhum profissional é um Deus para resolver a vida de ninguém, ainda mais num único atendimento;
2) O tarô faz mal quando o consulente acha que o atendimento vai responder o que ele quer ouvir (e deve ser atendido por estar pagando) – então, de um simples mal-estar a sintomas de raiva podem ser experimentados;
3) O tarô faz mal quando o consulente é orientado a não tomar certas decisões e faz tudo ao contrário – se a pessoa se deu mal, foi única e exclusivamente por sua teimosia e ignorância;
4) O tarô faz mal quando o tarólogo se coloca acima de tudo e de todos acreditando ter poder absoluto sobre acontecimentos e vida do consulente – o tarólogo é um simples tradutor e não pode (e nem deve) se colocar na consulta como em um jogo de xadrez;
5) O tarô faz mal quando se confunde religião com a prática, fazendo uma “salada” de conceitos ou ideias – o tarólogo deve respeitar o credo de cada um e nunca impor o seu;
6) O tarô faz mal quando o tarólogo adota uma abordagem fatalista onde tudo parece definitivo, imutável e irreversível – muitos consulentes são influenciáveis e suscetíveis, portanto, todo cuidado é pouco;
7) O tarô faz mal quando se visa poder, dinheiro, fama exclusivamente pelo tarô – alçado a objeto meramente comercial, o praticante se torna puro mercenário e coloca as necessidades do consulente em último lugar;
8) O tarô faz mal quando o tarólogo promete “mundos e fundos” ao consulente sem condição de cumprir qualquer coisa – o profissional não deve vender sonhos e sim, uma realidade compatível com o aprendizado do consulente;
9) O tarô faz mal quando o tarólogo escarnece da prática e desrespeita outros profissionais – é preciso ter cuidado entre ter humor e se desqualificar, zombando;
10) O tarô faz mal quando parece que, ao olhar do público, é o “segredo dos segredos” ao qual só uns poucos podem ter acesso ao conhecimento – o tarô para fazer um verdadeiro bem deve ser universalizado e utilizado como recurso transformador do ser.
Obviamente não me considero um tarólogo ou nada mais grandiloquente que um “cara”, mas fora as questões semânticas de denominação eu acho essa lista bem válida. Agora sim, vamos ao tema principal deste Post.

O que é um método de Leitura? 

Um método é uma organização lógica para se compreender os simbolos posíveis no tarot em uma cadeia de eventos, isoladas, cada carta é uma representação de um aspecto da existência humana, uma representação atemporal e lógica apenas na sua disposição simbólica e correspondência, porém, ao dispor as cartas em um método, atribuímos a possibilidade de compreender a representação simbólica dentro de uma proposta de tempo, situação e finalidade. Ficou complicado certo? ta. Imagine uma história em quadrinhos, mais especificamente o Reino do Amanhã do Mark Waid e Alex Ross – Porque eu sou Dcneco – os verdadeiros painéis desenhados por Ross são belíssimos e extremamente simbólicos, contendo referências a era de ouro dos superherois da DC e em muitos pontos, referencia também a era mais dark iniciada com watchmen e Cavaleiro das Trevas, ou seja, a arte possui um grande sentido em si mesmo, mas os belíssimos painéis não forma uma história sozinha. É preciso a organização lógica dos fatos e situações representadas pelos desenhos de Ross, esse é o roteiro, no caso escrita pelo Mark Waid.
Durante muito tempo tive uma questão que me perturbava, se “havia lógica” nas disposições das cartas, e foi em uma conversa com um amigo que essa duvida foi sanada, em grande parte das leituras existe sim uma logica comum nas disposições, não é válida para todas, pois nenhuma narrativa pode ser totalizante (inclusive essa ultima frase generalista e totalizante minha), mas a organização era mais ou menos a que vou descrever:
Vamos usar a Bandeira Cigana para isso, aliás, você já viu a bandeira cigana? Pois o povo cigano (Roms, Kalés, Sintis e outros) tem uma bandeira desde 1971, e foram considerados uma nação sem território, tendo um presidente inclusive, uma nação unidas não por sangue, mas por cultura e idioma. Os ciganos possuem uma relação intima com o Tarô, em especial as mulheres ciganas e em especial com o Petit Lenormand, também chamado de Baralho Cigano, que é simplificando, uma forma de interpretar as informações contidas nos Arcanos Menores do Tarô (56 cartas), no geral a cultura cigana é profundamente sincrética, ao mesmo tempo que possui fortes valores, por isso a incorporação tão profunda do Tarô. E… olha só que bandeira linda:
Desmembrando o simbolismo básico da bandeira temos: o Azul, sendo um céu, representando a espiritualidade, a paz, a liberdade, a ligação com os mundos superiores; o Verde, sendo a terra, a natureza, as matas, o mundo material; Entre o Azul e o Verde temos uma roda vermelha, sendo o caminho, a estrada, a tradição contínua, o vermelho da vida, da transformação;
E também podemos interpretar, para o uso no Tarô da seguinte maneira:
Agora vamos traçar um eixo na horizontal e compreender o que esta na linha da terra como o tempo, assim o lado esquerdo é o passado, o centro o presente, e direita como possível futuro.
Fazendo o mesmo traço na vertical temos acima no céu, aquilo que esta conhecido, aquilo que claramente guia, no centro a pessoa, a questão, ou a situação, e abaixo o oculto, o desconhecido, o interno.
Compreendendo este sistema, podemos entender por exemplo, a disposição da leitura chamada de Cruz Celta:
Mais adiante será melhor descrita a leitura da Cruz Celta, e as coisas devem ficar um pouco mais clara. Claro, essa explicação acima é uma forma de ver as coisas e de permitir que o estudante tenha um ponto de partida para significar e desenvolver seus estudos, como tudo quando se fala de metafisica, não é permanente, imutável, nem absoluto.
Enfim, vamos as formas de leitura.
 

Tiragens

1 Carta

Legal para treino e fixação do significado das cartas, é um exercício extremamente valioso tirar uma carta pela manhã e atentar conscientemente e deliberadamente para as formas como a energia/informação contida na carta se manifesta no seu cotidiano, ou as oportunidades que você tem para manifestar a sua relação com a energia/informação da carta. Por exemplo, você tira pela manhã a torre, observe a fragilidade das coisas a sua volta e o que você pode aprender caso elas venham a ruir, tome uma postura de aprender que muitas coisas são ensinadas através da perda e do trauma, e que se ao menos não for tirado algo de bom, não importando o grau do cataclisma, então ele de nada valeu, tudo foi tirado de você e você nada tomou da vida. Claro, teoricamente é algo possível de compreender, na prática precisa de esforço e Vontade.

2 Cartas

Boa para compreender a origem de algo no seu presente, ou o desenrolar de algo para mais a frente, descobrir de maneira simples algo oculto ou obscuro na sua mente, ou confirmar algo que você ja desconfia, de toda forma, pessoalmente penso que se for para tirar duas cartas, prefiro algo apenas um pouco mais complexo, e partir logo para a tiragem de 3 cartas.

3 cartas

Tiragens de 3 cartas são bastantes objetivas e trabalham bem com o esclarecimento de questões, a mais comum é para reflexões diárias, ou a respeito de algum dia em especial. Aconselho parcimônia sempre, afinal Tarô é uma muleta, o ideal é você desenvolver a percepção sozinho sobre as coisas que pode perguntar nessa leitura diária, cuja interpretação seria a seguinte:

Três Cartas Diárias

1. Sobre o que devo estar ciente?
2. O que devo lembrar?
3. O que seria aconselhável ignorar?
E existe a tiragem com três cartas que um amigo meu gosta e usa bastante pela versatilidade, sendo usada para questões de Diagnóstico Pessoal (de Si ou de outro), Analise Temporal de uma Situação e Análise de Questão:

Três Cartas

1. Mente / passado / pano de fundo.
2. Corpo / presente / problema.
3. Espírito / tendência futura / conselho.
tarot-8-4

Cruz de 4 Cartas

Objetiva, mas desenvolver e destrincha bem uma situação, propondo duas coisas interessantes, que é duas atitudes ou posturas, sendo uma que pode ser feita e uma que é melhor ser evitada. Opcionalmente pode ser transformada em uma leitura de Cruz com 5 cartas, acrescentando uma para elucidar o passado do assunto em questão, sendo colocada antes da carta 1 e empurrando a carta 1 para o meio da tiragem.
(opcional – 0. Passado do assunto em questão.)
1. Este é o assunto em questão.
2. Isto você não deveria fazer.
3. Isto você deveria fazer.
4. Este é provável resultado, é para isto que serve.

Cruz Celta – 10 Cartas

É talvez a mais famosa das tiragens com nome, ideal para Diagnóstico pessoal e para uma situação complexa que esteja passando. Como um estudante de Tarô é uma leitura essencial de ser dominada, e aliás, é a leitura “padrão” a ser feita em uma série de situações possíveis, pois esta relacionada ao mundo interno do consulente, na Cruz Celta, parte-se do principio que seja qual for a situação ela é consequência de suas escolhas em algum grau e devem ser resolvidas por você. “Se esta incomodado, mude-se a si mesmo”, este aliás é o sentido original do ditado cigano “os incomodados que se mudem”. A Cruz Celta também possui uma série de versões e possibilidades de significado usando as mesmas posições, aqui ela será apresentada com duas possibilidades de interpretação:
1. Esta é a questão.
2. Isto é acrescentado à questão, ou permeia a questão / descrimina o conflito
3. Isto é para onde a questão leva / tenência futura
4. Isto é o que é conhecido / você diante da questão
5. Isto foi a causa / influências do passado
6. Isto é o que é desconhecido / situação que você não percebe
7. Expande o desconhecido / mostra você diante da questão
8. Expande o futuro / aprofunda a carta 1 e 2
9. Expande o conhecido / uma lição para se aprender
10. Este é o resultado ou conselho final / o fechamento da leitura

O Caminho do Sobrevivente – 10 Cartas (Bônus!)

E por fim, gostaria de acrescentar uma ultima leitura que acho extremamente relevante, ela se chama O Caminho do Sobrevivente, e parte do principio que não importa a situação em que estamos, nem o quão frágil as dificuldades nos colocam, somos sobreviventes, e o foco da leitura é esclarecer a nossa situação como alguém que luta, quer e vai sobreviver e sobrepujar situações críticas. É uma leitura bem avançada, e que expõe fragilidades, mas extremamente útil em situações onde se é alvo de violência de qualquer natureza e em qualquer grau, para conhece-la, problematiza-la e supera-la. (Só gostaria de lembrar que se estiver em uma situação de abuso, peça ajuda, principalmente se for algo crítico para você, há coisas muito complexas para se suportar sozinho).
1. Como eu posso me livrar deste ciclo de abuso?
2. Como eu posso começar a minha jornada em direção a minha libertação?
3. O que eu posso fazer para me ajudar a mover meu passado nesta situação? (ou, o que eu posso fazer para reinterpretar minha história quanto a essa situação?)
4. Mostre-me qual carta simboliza minha Força.
5. Mostre-me qual carta simboliza minha Recuperação e Cura.
6. O que está bloqueando minha recuperação?
7. Como eu posso superar triunfantemente meus bloqueios?
8. Minha nova identidade como um sobrevivente.
9. Prova de que meu passado não define meu presente ou futuro
10. O resultado desta jornada.
Enfim, essa é a nossa nona postagem, qualquer dúvida, façam como vocês tem feito, redes sociais, e-mails e não se esqueçam da nossa área de comentários! Na próxima postagem espero ter novidades sobre algumas coisas, links de materiais bacanas para estudos y otras cositas más!
Em tempo, obrigado ao Bruno Cobbi pela explicação sobre a disposição das cartas na bandeira cigana, ao Rodrigo Grola e o Hod Studio pelas artes e pela versátil leitura de três cartas, ao Giancarlo Schmid do Clube do Tarô pela listinha la encima e a todo o Círculo de Enki por permitir uma palhinha em um trabalho que ainda esta em andamento.
No mais, Sucesso!
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Sobre Tarô #9 – Métodos de Leitura e Ética