In The Flesh: Poderiam zumbis e humanos conviver em harmonia?

Boa tarde, Freaks! Começando mais uma segundona ma-ra-vi-lho-as com vocês, falando sobre a série In The Flesh! Ela fala sobre zumbis, mas podem ficar tranquilos porque eles não são namorados de ninguém e nem fazem parte de uma série com mil temporadas com uma galera que só caminha mas não chega em lugar nenhum(#BRINGBETHBACK)!

In The Flesh foi uma série inglesa, exibida pela BBC Three, que teve 2 temporadas entre 2013 e 2014. Criada e escrita por Dominic Mitchell (seu primeiro grande trabalho), a série trazia uma nova abordagem sobre o apocalipse zumbi, mas infelizmente foi cancelada no início de 2015 devido a cortes no orçamento da BBC (me deixando órfã). Ganhou 2 BAFTAs (British Academy of Film and Television Arts, pode ser mais ou menos comparado ao Oscar americano, possui uma série de cerimônias) em 2014 de melhor minissérie e roteirista, 1 Broadcast Award (premiação organizada por canais de tv e rádio do Reino Unido) por melhor roteiro, e 1 RTS (Royal Television Society) em fotografia. A primeira temporada tem 3 episódios de 1h cada, enquanto a segunda tem 6, também de 1h.

A série se passa numa realidade onde zumbis existem e foram curados! Como assim? Acontece que, num belo dia, todo mundo que morreu em 2009 (a série não especifica muito bem se foram só os mortos de 2009 ou os a partir de 2009, mas tudo leva a crer que seja a primeira opção) simplesmente levantou dos seus túmulos e foi atrás do que eles mais amam: cérebros fresquinhos. Essa noite ficou conhecida como A Noite da Ascensão.

Depois de algumas mortes, esses zumbis conseguiram ser controlados e recolhidos numa espécie de prisão, onde experimentos começaram a serem feitos em busca de uma cura. A “deszumbificação” (nem adianta olhar no dicionário) foi encontrada através de uma dose diária de um medicamento injetável, Neurotriptyline, num buraco (literalmente) na base da nuca do ex-zumbi. Esse remédio faz com que a humanidade e as lembranças de antes da morte retornem, e são feitas sessões de terapia para que ele aprenda a lidar com sua culpa e “reaprenda a viver”. Após serem curados, eles não são mais zumbis (carinhosamente chamados de rottens, podres), mas sim portadores da Síndrome do Falecimento Parcial. Eles recebem kits de maquiagem e lentes de contato, e aulas de como usá-los e, após esse “período de testes”, são devolvidos à suas famílias.

E aqui começamos a nossa história. Acompanhamos Kieren Walker (Luke Newberry, fez pequenos papéis em Anna Karenina, Hercules e etc), portador da SFP, recém-chegado em sua casa, na vila fictícia de Roarton, noroeste da Inglaterra. Ele está tentando se misturar e ser aceito por sua comunidade, mas encontra o preconceito e a desconfiança de seus vizinhos (Roarton é basicamente o local mais tradicional e anti-zumbi da Inglaterra… e com o passar da série percebemos que nem em vida Kieren costumava ser bem aceito, pobrezinho). Após sua morte, sua irmã Jem (Harriet Cains, em seu primeiro papel de destaque) entrou para a Força Humana de Voluntários, uma espécie de equipe de “vigilantes” que ajudou na contenção dos rottens e na proteção dos cidadãos durante o período que se seguiu à Ascensão, e que é completamente contra a reintegração dos SFPs. Ou seja, ela odeia Kieren e o acha uma aberração, não o aceitando como irmão e causando muito desconforto dentro de casa. Seus pais, Sue e Steve (Marie Critchley e Steve Cooper, ambos atores da tv inglesa), estão felizes com sua volta, mas ao mesmo tempo estão batalhando para entender e aceitar Kieren, além de conseguir suportar a hostilidade da vizinhança.

A primeira temporada mostra o cotidiano de Kieren e o motivo de sua morte, fala sobre seu passado e as pessoas presentes nele, com destaque a Rick (David Walmsley, da série The Smoke), filho do chefe da FHV e melhor amigo de Kieren, que supostamente foi morto em combate no Afeganistão, mas está de volta a Roarton (leve spoiler galera, desculpa). Vemos também o preconceito e a forma com que esses ex-zumbis reintegrados são recebidos: apesar de o governo divulgar campanhas de aceitação dos SFPs, a cidade de Roarton não segue esse ideal, e encontra na igreja local a figura de Vicar Oddie (Kenneth Cranham, de Malévola e Operação Valquíria), um pregador, responsável pela criação da FHV, que incita um discurso de ódio contra esses seres diferentes, que não merecem viver no mesmo lugar que eles (onde eu já vi isso mesmo? polêmica).

Em uma das caminhadas de Kieren até seu túmulo, ele encontra Amy Dyer (Emily Bevan, da série Morte Súbita), a ex-zumbi mais fofa Zooey Deschanel do mundo, que tem uma leve quedinha por Kieren e leva sua segunda vida de forma mais otimista possível, mostrando que essa segunda chance pode ser uma coisa boa, ao invés da espiral emo onde Kieren vive dentro. Kieren leva uma segunda vida tranquila, andando de cabeça baixa e ficando fora de vista o máximo possível, enquanto Amy é completamente contra a idéia de usar maquiagem e lentes de contato, sendo feliz, aceitando sua nova figura, ignorando a estranheza e revolta que sua aparência causa nos habitantes da cidade e fazendo minha mãe falar “Ai, que olho estranho” sempre que aparecia em cena.

Essa temporada fala muito sobre a culpa sentida por Kieren, e tem muitos flashbacks de sua época como rotten e de seu tratamento médico. O que a série tenta passar é que esses ex-zumbis são praticamente como qualquer pessoa que passou por algum tipo de programa de reabilitação: Enfrentam o preconceito da sociedade e a culpa por suas ações. Esses Portadores de SFP não tiveram culpa de seus atos, pois os cometeram por sobrevivência. Eles são chamados de rottens exatamente porque, se não se alimentassem de carne humana, apodreceriam e morreriam (algo parecido acontece quando eles ingerem qualquer tipo de comida, já que seus órgãos internos estão basicamente decompostos, rs). São muitas as similaridades com problemas reais da nossa sociedade, que ficam ainda mais evidentes no decorrer da série.

Começamos a segunda temporada mostrando uma convivência mais tranquila entre Kieren e Jem, que finalmente conseguiu aceitar seu irmão, mas está passando por questionamentos internos, relativos às coisas que ela fez enquanto membra da FHV. Kieren está trabalhando para juntar dinheiro e conseguir ir embora de Roarton, quando sua BDFF (Best Dead Friend Forever ou Melhor Amiga-Morta Para Sempre) Amy reaparece junto de Simon (Emmet J. Scanlan, da série The Fall), um dos discípulos do Undead Prophet (Profeta Morto-Vivo, em falta de palavra melhor), que comanda a Armada de Libertação dos Mortos-Vivos. Essa Armada tem como objetivo unir todos os portadores de SFP e mostra-los que eles não precisam viver sob as ordens do governo, mas sim aproveitar o máximo sua nova chance de viver. É um ideal bonito, mas ao mesmo tempo a ALM é a provável responsável por alguns ataques a humanos, o que deixa Kieren com um pé atrás em relação ao Profeta e a Simon. Aos poucos vamos percebendo que unir os SFPs não é o único interesse da ALM…

Paralelamente, acontece a chegada de Maxine Martin (Wunmi Mosaku, de Philomena), uma representante do partido Victus, opositor ao governo atual, por ser uma organização Pró-Vida e contra SFPs. Ela visita Roarton, seu local de nascimento e berço da criação da FHV, e fica chocada ao ver rottens e humanos convivendo, decidindo então ficar por lá e restaurar a “paz”. Apesar de concordar com Vicar, ela tem uma abordagem diferente: Ela diz que os portadores da SFP são instáveis, pois estão a um passo (no caso, sua dose diária) de voltarem a ser violentos, e por isso deveriam ao menos retribuir tudo que a sociedade tem feito por eles. Ela estabelece então um programa de “Retribuição”, onde os SFPs fazem trabalho braçal por várias horas por dia, e pagarão por sua liberdade com essas horas. Aos poucos vamos percebendo que purificar a cidade não é o único interesse de Maxine…

Descobrimos a existência de uma droga, chamada Esquecimento Azul, que faz com que os SFPs momentaneamente voltem ao seu estado raivoso anterior e ataquem as pessoas a sua volta. Descobrimos também que Amy está ficando doente, além de não estar mais reagindo ao tratamento com Neurotriptyline. Descobrimos ainda que tanto a Victus quanto a ALM acreditam numa Segunda Ascenção, e religião, política e anarquia se misturam numa guerra de interesses. E o mais incrível: Existe uma rede de prostituição de SFPs.

In The Flesh é uma série maravilhosa exatamente por conseguir, de forma sutil, fazer um paralelo com zumbis e classes oprimidas da nossa sociedade. Se pegarmos o personagem de Kieren e substituirmos por qualquer representante de qualquer classe oprimida (negros, homossexuais, deficientes, dependentes químicos, etc etc) teríamos resultados muito parecidos. Ela mostra o preconceito e a influência que a igreja tem na vida de seus seguidores, principalmente as sensacionalistas e as existentes em pequenas comunidades rurais, como Roarton. Ela fala sobre homossexuais, suicídio, hipocrisia, opressão familiar, depressão, alienação e muitos outros problemas reais que vemos por aí. Incrível como uma série sobre zumbis pode ensinar tanto sobre comportamentos da nossa sociedade.

A fotografia da série muito bonita e combina com a temática, sendo basicamente toda em tons de cinza. Ela traz a idéia de melancolia e solidão, sentimentos que Kieren experimentou por toda a sua vida e pós-vida também. In The Flesh foi uma série interessante, que nos fez sair de nossa zona de conforto, exatamente como diz seu nome: Na Pele. Nós nos sentimos na pele de Kieren.

Infelizmente foi cancelada sem responder todas as (muitas) perguntas que surgiram com seu Season Finale. Fica a torcida pra que algum milagre aconteça e In The Flesh seja retomada. Afinal, apesar de todos os pesares, o último episódio nos trouxe um! <3

Levando em consideração a realidade da série, onde os zumbis são regenerados e é sabido que eles apenas se alimentaram de carne humana por instinto de sobrevivência (mais ou menos como os casos de canibalismo como forma de sobrevivência, registrados durante nossa história), deixo pra vocês a pergunta do título do post. Seria possível humanos e zumbis conviverem em harmonia? O que vocês acham? Vejo vocês nos comentários!

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