Serial Killers – John Wayne Gacy, o palhaço assassino

O jovem David Cram tinha apenas 18 anos de idade quando foi contratado para realizar um trabalho como pedreiro na casa de um conhecido e respeitado homem de negócios de Chicago. Era Julho de 1976 e seu novo patrão pediu que ele abrisse um grande buraco abaixo do piso da casa, pois em breve seria feita uma pequena reforma no encanamento de esgoto. Como a obra tinha certa urgência, ele se mudou para um quarto da casa para poder trabalhar com maior agilidade.

Em uma noite, ao chegar da rua, David encontrou seu chefe completamente bêbado na sala vestido com uma roupa de palhaço. Isso não o surpreendeu tanto, pois aquele “bondoso” homem fantasiava-se assim como parte de um trabalho voluntário que fazia com crianças internadas em hospitais. Convidado a beber com seu patrão, ele tomou alguns goles e, quando percebeu, foi algemado. O palhaço ria e fez aquilo parecer parte de uma brincadeira. A voz doentia dizia no começo: “eu peguei você. E agora, como você vai escapar?” Ambos riram daquilo, mas quando a ameaça passou a ser “eu vou te estuprar“, o rapaz percebeu que estava em sério perigo. Felizmente ele conseguiu escapar. Como era forte, derrubou o agressor no chão, pegou as chaves das algemas e se libertou. Ele teve a sorte que vários outros garotos não tiveram.

David Cram não sabia que acabara de escapar daquele que, na época de sua prisão, ficou conhecido como o maior assassino dos Estados Unidos: John Wayne Gacy Jr., também conhecido como O Palhaço Assassino. Assim como os demais criminosos de quem tenho falado na Série sobre Serial Killers, Gacy teve uma infância problemática. Nascido em Chicago em 17 de Março de 1942, ele teve esse nome por uma homenagem que sua mãe, Marion Robinson, fez ao famoso ator de quem era fã. Seu pai, John Stanley Gacy, nunca demonstrou amor pelo filho e sempre foi muito agressivo.  Ele era o filho do meio do casal. Dois anos mais velha que ele havia sua irmã Joanne Gacy e dois anos mais nova, aquela que ficou conhecida no futuro por entrevistas sobre seu irmão, Karen Gacy.

Pais de John Wayne Gacy - Serial Killers

Pais de John Wayne Gacy

John Gacy, o pai, criou grandes expectativas quando seu único filho homem nasceu. No entanto, quando a criança ia crescendo, pouco demonstrava interesse nos assuntos do pai, como mecânica e pescaria, preferindo aprender a cozinhar com sua mãe e brincar com as irmãs. O pai, homofóbico e machista, espancava o garoto constantemente humilhando-o em público ao chamá-lo de “mulherzinha” e dizer que ele jamais seria nada na vida. Ele também era alcóolatra e, quando bebia, as agressões eram ainda mais violentas.

Além de sofrer em casa, John Wayne Gacy também era vítima de bulling na escola e na vizinhança. Desde pequeno ele esteve acima do peso e isso era motivo para as outras crianças o provocarem. Um dia,  durante uma aula de educação física, ele desmaiou e foi levado ao hospital. Os médicos diagnosticaram um problema cardíaco congênito que o impediram de praticar qualquer atividade física regular pelo resto da vida. Para o pai isso foi mais uma decepção e uma prova de que o filho “não servia para nada, não passando de um afeminado inútil que era melhor nem ter nascido“. Nem mesmo nos estudos ele ia bem. John ficava tanto tempo doente, que não conseguia tirar boas notas em nenhuma matéria.

Com medo do preconceito que sofreria, ele sempre escondeu sua condição homossexual. No Ensino Médio, saiu com várias garotas, mas boatos corriam de que ele gostava mesmo era de meninos. Ele conseguiu um emprego na gráfica da escola, mas os professores e chefes o disseram que ele jamais seria bom trabalhando com máquinas. Essa era a profissão de seu pai e, ao ver que o filho falhara também nisso, o deu uma surra e o chamou e “imbecil e incompetente“. Cansado disso, ele aceitou um emprego como vendedor de sapatos em outra cidade, Springfield, naquele mesmo estado, Illinois. Isso aconteceu em 1964, quando ele tinha 22 anos de idade.

Longe do olhar crítico do pai, ele buscou reconhecimento. Ele queria provar para si mesmo e para os outros que poderia sim ser alguém da vida. Aqui eu vejo muito forte um sentimento que existe nos EUA, país onde moro, por ser um “vencedor”. John Gacy sentiu essa pressão como ninguém. Em Springfield, ele se filiou ao Partido Democrata e à Câmara Júnior de Comércio (em inglês, Junior Chamber of Commerce, ou simplesmente JAYCEE). Nestas duas iniciativas ele se destacou rapidamente, sendo logo elevado ao status de um importante líder local.

John Wayne com Marlynn Meyers e seu primeiro filho - Serial Killers

John Wayne com Marlynn Meyers e seu primeiro filho

Naquele mesmo ano de 1964 ele começou a namorar e depois casou-se com uma colega de trabalho, Marlynn Meyers. Juntos eles tiveram dois filhos, ambos meninos e isso pareceu mexer profundamente com Gacy. Ele realmente parecia amar as crianças e foi, durante alguns anos, um ótimo pai. Sua família veio visitá-lo quando do nascimento da primeira criança e, vendo-o com bom emprego, casado e reconhecido na sociedade, seu pai admitiu que estava errado quando o julgou um idiota incapaz.

Em 1966, o sogro de John comprou três franquias do restaurante KFC (Kentucky Fried Chicken) na cidade de Waterloo, estado de Iowa, e convidou o genro para administrar as lojas. Gacy aceitou o convite e a família se mudou no mesmo ano. Nesta nova moradia, ele cresceu ainda mais profissionalmente. Além de ser o gerente das lanchonetes, ele continuou como membro dos Jaycess, conseguindo inúmeras novas adesões ao organizar orgias com prostitutas como forma de recrutamento. Muitas vezes a própria esposa participava dos bacanais. Eles também eram adeptos da troca de casais, mas nada disso abalou sua imagem de grande homem de negócios, já que ele sempre conseguia alcançar seus objetivos.

Tudo isso começou a mudar em 1967. Sob a promessa de lhe mostrar filmes pornográficos, John Wayne Gacy convidou o garoto Donald Voorhees para sua casa. Donald, de apenas 15 anos de idade, era filho de um membro importante do Jaycees. O menino foi algemado e obrigado a fazer sexo oral em John. Ele foi ameaçado e guardou segredo por quase um ano, mas em 1968 contou o ocorrido para os pais e isso levou à prisão do pedófilo. John Gacy foi condenado à prisão por 10 anos, mas ficou apenas 18 meses encarcerado. Por bom comportamento, ele conseguiu liberdade condicional.

Enquanto estava preso, sua esposa Marlynn pediu o divórcio e mudou-se da cidade com seus filhos. Ele nunca mais os veria novamente. No mesmo período, seu pai morreu e isso o fez se sentir culpado. Obrigado pela justiça, ele voltou à Chicago e foi morar com a mãe.  Conseguiu um emprego como cozinheiro, função que já havia exercido na cadeia, e tentou reerguer sua vida.

Bussiness Card - Serial Killer

Cartão de Visitas de John Gacy

Depois de alguns anos, ele juntou algum dinheiro e montou sua própria empresa, a PDM (PaitingDecorating and Maintenance) que, como o nome diz, realizava serviços de pintura, encanamento e reformas. Isso aconteceu em 1971 e já no ano seguinte ele comprou uma casa nova, para onde se mudou com a mãe. Seguindo seu projeto de construir para si uma imagem de homem sério, ele começou a namorar Carole Hoff, uma mulher divorciada com duas filhas pequenas. Rapidamente eles se casaram e sua mãe decidiu se mudar para dar mais privacidade à nova família

No entanto, antes de se casar e antes ele e Carole fossem morar juntos, ele cometeu seu primeiro assassinato registrado. A vítima foi Timothy Jack McCoy, um garoto de 15 anos de idade que ele conheceu em um terminal de ônibus e a quem prometeu carona. No final, eles passaram a noite juntos. Não se sabe com certeza o que aconteceu, pois a versão de John sobre o caso mudou algumas vezes, mas o fato é que ele esfaqueou o garoto até a morte e enterrou o corpo em sua própria casa. Não se tem certeza como ele conseguiu fazer isso sem que ninguém percebesse, mas isso deu a ele um sentimento de satisfação que o tornou mais violento ainda.

Ao mesmo tempo, ele realizava serviços voluntários e ajudava diversas pessoas, ganhando a simpatia dos cidadãos de Chicago. Neste período, ele criou o personagem Pogo, um palhaço que alegrava crianças em festas e hospitais. Mesmo casado, ele continuava a ter relacionamentos extra-conjugais com garotos que encontrava na rua e com funcionários de sua empresa.  Com isso, seu casamento foi desmoronando e, com apenas 3 anos de relacionamento, Carole pediu o divórcio e se mudou com as meninas.

O Palhaço Pogo

O Palhaço Pogo

Agora sozinho, ele aumentou seus casos de estupro e sua vida criminosa se tornou ainda mais frequente. Apesar de ele ter matado outras pessoas quando ainda estava casado, foi após o divórcio que os crimes chegaram a uma média de dois ou mais por mês. Um caso famoso foi o de John Butkovitch, de apenas 16 anos. O garoto foi violentado e sufocado com a própria cueca e depois teve o corpo enterrado no quintal de casa. As vítimas eram na maioria jovens que ele recrutava para trabalhar em sua empresa de serviços gerais.

Um problema era se livrar dos corpos. Gacy estava cansado de cavar covas nos fundos de sua casa e por isso contratou David Cram, citado no início deste texto, para cavar um buraco sob o piso de madeira da sala. Ele usou esse espaço para enterrar suas próximas vítimas. Em 1977 ele já havia matado 19 garotos e esse número chegou a impressionantes 32 cadáveres em 1978. Em muitos destes crimes ele confessou estar vestido com sua fantasia de palhaço.

A sorte de John Wayne Gacy mudou quando ele conheceu Robert Jerome Piest em 1978. Não se sabe se ele já conhecia o rapaz antes, mas ele chamou o garoto de 15 anos para um passeio quando os dois se encontraram em uma farmácia. Quando o o jovem desapareceu, testemunhas disseram tê-lo visto sair no carro de John. A polícia conseguiu um mandato de busca e apreensão e revistou a casa do assassino. Não acharam nenhum corpo, mas encontraram diversos objetos pertencentes a pessoas desaparecidas, incluindo um anel que pertencia à Piest. Isso o fez se tornar o suspeito número 1 de uma série de homicídios. No entanto, a polícia precisava encontrar os corpos para inciminá-lo, caso contrário, não haveria prova de assassinato e os casos continuariam a ser tratados como simples desaparecimentos.

Algumas das vítimas do Palhaço Assassino

Algumas das vítimas do Palhaço Assassino

John foi posto em vigilância e, tentando mostrar-se tranquilo, ele convidou os policiais para jantarem em sua casa. Quando um deles foi ao banheiro, sentiu um forte cheiro de corpos em decomposição. Gacy disse que o odor provinha de vazamentos no enganamento de esgoto, mas no dia seguinte um novo mandato de busca colocou fim ao mistério. A polícia escavou a sala do criminoso e encontrou diversos corpos enterrados. A cobertura da imprensa foi enorme. Quanto mais eles cavavam, mais cadáveres eram encontrados. No total, enterrados na casa dele e em outro locais depois descobertos, a polícia localizou 33 corpos, mas o número de vítimas pode ser maior. Destes, oito vítimas jamais foram identificadas.

Preso, John Wayne Gacy foi julgado em 1980. A repercussão foi mundial. Durante seu julgamento ele tentou alegar insanidade mental, mas esse argumento não convenceu o júri que o condenou à pena de morte. Enquanto esperava a execução, ele concedeu entrevistas onde deu sua versão dos crimes e fez desenhos que depois foram vendidos a altos preços. Eu inclusive vi alguns desses desenhos quando visitei o Museu da Morte aqui em Los Angeles.

Famoso quadro pintado por John Wayne Gacy

Famoso quadro pintado por John Wayne Gacy

A mãe dele não suportou o ocorrido e, após vários problemas de saúde, morreu em 1989.  Ele nunca mostrou remorso por nada do que fez. Na verdade, o que mais o incomodava não era ser chamado de palhaço assassino, mas as pessoas o classificarem como homossexual. Ele sempre negou esta condição. Após grande comoção, John Wayne Gacy Jr. foi executado por injeção letal em uma prisão estadual em 1994, aos 52 anos de idade. Imediatamente após sua morte, seu corpo foi levado a um hospital para que o cérebro fosse retirado e estudado. Nada de anormal na anatomia do órgão foi encontrado.

Não se sabe exatamente o que leva pessoas como ele cometerem atos de tamanha selvageria, mas o fato de usar a inocente imagem infantil do palhaço como máscara para encobrir um monstro nos faz pensar que o mal absoluto pode estar em qualquer lugar, até mesmo escondido atrás de um sorriso simpático que distribui balões e doces com o mesmo sentimento com que banha o chão com o sangue de pessoas inocentes.

 

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