[Resenha] Objetos Cortantes – Gillian Flynn

Objetos cortantes é o livro de estreia de Gillian Flynn, autora de Garota Exemplar (que você pode ler a resenha sobre o filme aqui e Lugares Escuros, ambos adaptados para o cinema, com Rosamund Pike (Orgulho e Preconceito) e Charlize Theron (Mad Max Fury Road) em seus respectivos papéis principais. Os direitos para este livro também foram comprados, com Amy Adams (Batman vs Superman) no papel principal, mas nesse caso parece que será adaptado para uma série de TV, e não para um filme. Mas vamos para a resenha!

Acompanhamos Camille Preaker, jornalista de um pequeno jornal de Chicago, que é escolhida para cobrir uma série de assassinatos que começaram a ocorrer em sua cidade natal, Wind Gap. A primeira vista, Camille parece uma jovem mulher atravessando uma crise existencial, depressiva, solitária e insatisfeita com o rumo de sua vida. Num olhar mais profundo, descobrimos que seus problemas são muito mais graves: ela tem problemas de autoestima e se mutila, cortando palavras em sua pele que geralmente simbolizam momentos e/ou coisas das quais ela precisa escapar. Palavras como “desconfortável”, “nociva” e “sumir” estão marcadas em quase toda a extensão de seu corpo que pode ficar coberta, com exceção de uma parte das costas que ela não consegue alcançar. Ela acabou de sair de uma clinica de reabilitação e a única luz em sua vida parece ser Curry, seu chefe, que serve como sua figura paterna e ombro amigo, além de ter sido uma peça importante em seu processo de recuperação.

Chegando a Wind Gap, 8 anos após ter ido embora, conhecemos mais sobre a cidade que Camille tanto odeia. À medida que ela vai fazendo entrevistas para a matéria, vamos conhecendo seus antigos amigos e vizinhos, em sua maioria pessoas mesquinhas e fofoqueiras, extremamente preocupadas com aparências. Suas amigas de escola se tornaram esposas-troféu, ostentando casamentos fracassados e crianças histéricas. Os assassinatos recentes trouxeram uma movimentação para a cidadezinha, e em um ponto Camille afirma que os moradores parecem QUERER que o assassino fosse de Wind Gap, para ter mais sobre o que falar.

Sua família é uma das mais ricas da região, dona de um abatedouro de porcos. Em sua mansão vitoriana moram Adora, Allan e Amma, mãe, padrasto e meia-irmã de Camille, respectivamente. Enquanto Allan serve como uma marionete para os caprichos de sua mulher e filha, o maior destaque é por conta de Adora e Amma, duas personagens incríveis e conflitantes.

Adora é extremamente controladora, fria, distante, psicótica, e não tem vergonha em deixar explícito o fato de que ela considera que Camille destruiu sua vida. Ela se apaixonou por um homem que a abandonou grávida, e toda sua frustração e raiva foi direcionada para Camille, que cresceu com a dor da rejeição. Casou-se com Allan e teve Marian, o amor de sua vida, mas a infância da menina foi marcada por doenças inexplicáveis e visitas ao hospital, até finalmente falecer. O vazio que ela deixou pra trás foi se tornando cada vez mais insuportável, junto do sentimento de “Deveria ter sido eu” que acompanha Camille até hoje. Fica bem fácil entender a origem e a causa de todos os problemas da protagonista, e sua relutância em voltar para Wind Gap, mesmo depois de todos os anos. As feridas iriam se reabrir.

Amma é a princesinha da casa. Já está com 13 anos mas ainda ama suas bonecas e deixa sua mãe vesti-la como uma. É rodeada de mimos e de cuidados, mas apesar de parecer um anjo para seus pais, se torna um pequeno demônio no minuto que cruza os portões de casa. Roupas provocantes, jogos de sedução, festas regadas a álcool , drogas e sexo, Amma é uma criança problemática que, ao mesmo tempo que tenta tomar o lugar de sua irmã morta, quer provar para a sociedade que pode fazer o que quiser. Sua convivência com a irmã é estranha, já que as duas não tiveram muita interação antes de Camille ir embora para Chicago. Com a chegada da irmã. Amma resolve mostra-la que é ela quem dá as rédeas da situação, fazendo jogos psicológicos e humilhando Camille na frente de suas “seguidoras”.

A medida que as investigações prosseguem Camille se envolve com Richard, o galanteador detetive responsável por encontrar o assassino. Fica bem óbvio que essa é uma situação onde um tenta tirar proveito das informações que o outro possui, mas Camille tem uma necessidade tão grande de agradar as pessoas que ela acaba metendo os pés pelas mãos. Enquanto seu relacionamento esfria, começa a ficar claro quem é o culpado. Ou será que não?

Objetos Cortantes é um livro tenso, apesar de a leitura ser bem fácil e rápida. Ele trata de temas pesados como rejeição familiar, automutilação, depressão, e evidencia a maldade humana em suas mais variadas formas. Seja por ciúme, por orgulho ou por inveja, todos os personagens possuem um lado negro, e isso é uma das coisas mais incríveis nos personagens de Gillian Flynn. É claro que dá pra notar a diferença entre Objetos, de 2006, e Garota Exemplar, de 2012: O tom das histórias é diferente, mas a narrativa e o enredo da autora se aprimoraram com o passar do tempo, óbvio. Isso não torna o livro ruim, eu só gostaria que certos temas tivessem sido melhor aprofundados.

A história é intrigante e envolvente, o plot twist do final é surpreendente, a forma como a autora aborda o autodesprezo de Camille é bem sensível, e os personagens são muito bem construídos. Vale a pena ler!

PS: Um detalhe interessante é que em 2008 o livro foi publicado pela Rocco com o título de “Na própria Carne”, com a ilustração de uma gilete bem no meio. Em 2015 foi relançado com o título atual pela Intrínseca, com a capa aos moldes das capas de seus irmãos “Garota Exemplar” e “Lugares Escuros”, ambos da mesma editora.

 

Título: Objetos Cortantes

Autora: Gillian Flynn

Editora: Intrínseca

Páginas: 256

Ano: 2015 (reimpressão)

 

Nota: 4,5/5

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